Seleção de obras e autores da Graphia Editorial.
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Com graduação e mestrado em teoria literária pela UFPA, além de pós-graduação na PUC/MG, Paulo Nunes (Belém, 1964) é professor da UNAMA – Universidade da Amazônia e da Escola Estadual de 1.º e 2.º graus Deodoro de Mendonça. Ensina Literatura da Amazônia, na UNAMA, onde participa do conselho editorial da revista Asas da Palavra, da graduação em Letras.
Em 1996, montou a mostra de poemaobjetos Geringonças, que propõe o uso de lixo reciclável para discutir o problema dos resíduos sólidos em Belém.
Participou de diversos projetos de divulgação da leitura, destacando-se O Escritor na Cidade, da Fundação Biblioteca Nacional.
Seu mais expressivo sucesso editorial, entre os vários livros que publicou, é Banho de Chuva (já em terceira edição pela CEJUP), que recebeu o selo Salas de Leitura da FAE/MEC. Junto com O Mosquito qu’engoliu o Boi, faz parte de uma trilogia que o poeta prepara sobre Belém.
Escreveu vários artigos na revista Asas da Palavra, de 1995 a 1998, entre os quais “O coração sente um jeito marajoara de ser: minha gapuiação em Três Casas e Um Rio, de Dalcídio Jurandir” (Asas da Palavra, n.º 4. Belém, UNAMA, 1996), “Desejos e Interditos: minha leitura relaxada em Crucifixo, de Bruno de Menezes” (Asas da Palavra n.º 5. Belém, UNAMA, 1996), entre outros, como também em Moara, revista de pós-graduação em Letras da UFPA e CEALE: UFMG/UFOP (Belo Horizonte, Autêntica, 1999).
Participou de vários encontros sobre educação, em Belém, Campinas e Mariana. Na mesa-redonda “A Recepção do Texto Literário”, com Benedito Nunes, Flávio Koethe e Benedicto Monteiro, fez a palestra “A Aquonarrativa de Dalcídio Jurandir.” Participante de comissões, coordenou o projeto de implantação da disciplina Literatura Paraense na rede municipal de ensino de Belém, Semec/UFPA, de 1988 a 90, e integrou a equipe O Livro Didático para a Amazônia, SEDUC-PA, de 1991 a 93, entre outras atividades. Além dos livros publicados, Paulo Nunes tem mais três livros no prelo.
Livros: Citrial, uma história que parece duas. Belém, Semec, 1986; Banho de Chuva. Poesia. Belém, CEJUP, 1990. Livro-selo Salas de Leitura, da FAE/MEC. 3.ª ed. CEJUP, 1996. Ilustrações de Tadeu Lobato. Apresentações de Bartolomeu Queirós e de Edmir Perroti. Texto e Pretexto. Experiência de educação contextualizada, a partir da literatura feita por autores amazônicos. Co-autoria com Josse Fares, Josebel Akel Fares e Rey Vinas. Belém, CEJUP, 1991. Indicado para o nível inicial de Português da Universidade Charles de Gaulle; Do Texto ao Texto: Leitura, Gramática e Criação. Belém, SEDUC; Arco Mutante dos Huanos: Vaginário e Peniário. Poesia erótica. Belém, Alpharrabios, 1997; e O Mosquito qu’engoliu O Boi. Poesia. Belém, CEJUP, 1998. Ilustrações de Emmanuel Nassar. Livro selecionado para o Salão do Livro da Juventude Saint-Denis, França, versão 1998.
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Do livro Poesia do Grão-Pará (Rio, Graphia, 2001, seleção e notas de Olga Savary)
EXÍLIO DE PÉ QUEBRADO
Ao Antônio Juraci, que conserta pés quebrados
Minha terra tem açaizeiro
que um palmiteiro boliu,
as mangueiras já não enfeitam
a catorze de abril.
Minha terra vê-o-peso
da baía do guajará
os periquitos daqui
não cantam como os de lá.
Minha terra é curiosa
tem caveira de sapo enterrada
a gente toca carimbó
só que escuta marujada.
Minha gente fez cabanagem
mas baixou seu espinhel
hoje só vive esperando
o bacuri cair do céu.
Que prazer encontro eu lá
nas manhãs de chuva fina
a garoa vai brotando
feito xixi de menina.
Terra que teve tanta coisa
por isso a gente não entende.
Mas lixo tem-tem de montão
se vacilar, engole a gente.
Em minha terra ribeirinha
solteira não vive só
mesmo não tendo amante
o boto lhe dá um nó.
Rato? Sai pelo ladrão,
batebatuque o velho Bruno,
aqui se toca o siriá e
até se exalta gatuno.
Não permita mia Senhora
santinha de amor e de fé
que eu desmanche sem voltar
ao Círio de Nazaré.
FOLHAS DE MANGA
Mangas batucam chão
cãntãbailãdo no asfalto.
Zunzueiro e corre-corres
de desejos ap-tecendo.
Farinha de esperas
no teu prato.
Olhares descascam o fruto
e as calçadas de lioz
vestem as dúvidas como se…
Vem um caminhão
zuct!
Ó periquitos de passado!
Entre o som-som-brado
das mangueiras-vovó
a cidade se descostura em suas
próprias fronteiras.