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Roberto Saito (Tomé-Açu, 1942) formou-se em Letras pela USP.
Trabalha como professor de Português. É um dos fundadores do Grêmio Haicai Ipê, em São Paulo. Foi membro do júri do 1.º ao 4.º Encontro Brasileiro de Hai-kai (1986-1989). Tem colaborado na divulgação do haicai através de palestras e artigos em revistas. Participante de inúmeras antologias.
Livros: O Grande Silêncio. Poesia. SP, 1976; Faíscas. Poesia: haicais. SP, 1986; e Fúrias, Faíscas. Poesia. Obra reunida. SP, 1990. Em colaboração, organizou antologias do haicai brasileiro: 100 haicaístas brasileiros. SP, Aliança Cultural Brasil-Japão/Massao Ohno Editor, 1993. Organizada com Humberto Senegal, H. Masuda Goga e Francisco Handa; As quatro estações. SP, 1993; e Antologia do haicai latino-americano. SP, Aliança Cultural Brasil-Japão/ Massao Ohno Editor, 1993. Organizada com Humberto Senegal, H. Masuda Goga e Francisco Handa.
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Do livro Poesia do Grão-Pará (Rio, Graphia, 2001, seleção e notas de Olga Savary.
NA MARGEM OPOSTA
Na margem oposta
passavam cadáveres
Eram como sombras
na sombra das árvores
Passavam cadáveres
na margem oposta
Na sombra das árvores
como sombras dormindo.
Imponente na aridez –
a pedra solitária.
A duradoura pedra.
Passa o ladrão
com suas furtivas mãos.
Fica o cão – sem o latido.
No banho da noite
a boca e a alma em fel.
Engolia sapos.
É o sapo de ontem
sob o chuchuzeiro
com seu coaxo soturno.
Na minha frente
minha magra sombra.
Atrás – a lua gorda.
Na curva da estrada
o ipê florido, inclinado
por sobre o abismo.
Fina folha se desprende
e levemente toca
os pedregulhos.
A jaca cai
e o seu odor entorta
o nariz das formigas.
Atrás da taça de vinho
o sorriso fino
de uma raposa.
De seda e sinuosa
uma linda serpente
entre as convidadas.
Chuviscam finas
umas asas de grilo
por entre flores.
A casa abandonada.
Urtigas invadem
um outrora jardim.
Formiguinhas devoram
um animal gigante –
a deliciosa barata.
Um sussurro cósmico.
Formigas que mexem
alguns grãos de terra.
Abro o portão
na úmida madrugada.
Perfume de camélias.
Numa certa manhã
a encantação do ipê –
só flores e abelhas.
Na paisagem dos lagos
a primavera em flor –
sob as águas.
A criança dorme
e trêmula – uma mosca
no seu nariz.
Entre os girassóis
um filho da lua
sentindo ser o sol.
Um só e fino eucalipto.
A aragem sussurra,
roçando casca e folhas.