Seleção de obras e autores da Graphia Editorial.
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Diplomata de carreira, Armindo Branco Mendes Cadaxa (São Paulo, 1917 – Nova Friburgo, 2011) fez seus estudos iniciais em São Paulo, Coimbra e Lisboa, diplomando-se em Direito em Niterói. Serviu em consulados e embaixadas do Brasil na Argentina, Estados Unidos, Haiti, Itália, Jamaica, Polônia, Alemanha, Suíça, Trinidad, União Soviética e Uruguai.
A coletânea Forma, Espaço, Tempo, publicada pela Graphia em 1998, reúne Promontório (1996, Prêmio Jabuti de Poesia de 1997), Elegias das Serras Menores ( 1992) e Sombras (1993), além de inéditos e de poemas selecionados de A Volta do Compasso (1997), Perspectiva desde a Rocha ( 1995) e Terra de Siena ( 1994).
Em língua inglesa publicou: Earthquake at Delphi (Londres, Outposts, 1966); The Rebouding Stone (Londres, Outposts, 1967); Exultet-Exaltet, com a poetisa inglesa Marguerite Edmonds (Port-au-Prince, Théodore, 1969); The Shadows Within (Londres, Mitre Press, 1972) e Burnt Siena (Londres. Outposts, 1979).
Em língua portuguesa, além dos títulos já citados, publicou ainda: Teu Corpo é Ouro Só (Rio. Nova Fronteira/INL, 1985) e o Auto da Ribeirinha (Lisboa, Imprensa Nacional, 1996).
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Do livro Forma, Espaço, Tempo – Poesia escolhida: 1960-1997 (Rio, Graphia, 1998)
VELA AO MAR
Que buscas tu, vela solitária
Rumo ao mar alto, aberto, imenso?
Traga-te onda ligeira
Tu, mais ligeira ainda a remontas
Espadanando espuma qual criança no raso
Brincando com a frol rendada da mareta.
Vais deixando a ló, num bordejo só,
Ilha esmeraldina em tua esteira,
Mais e mais te somes no horizonte
Horizonte e sonho, mas que sonho?
O apelo do desconhecido em ti reboa
Não receias, como a tantos acaece
O sonho de monstros se povoe,
Ouvir em lugar de melodias trenos
À medida que o abismo à proa se enegrece?
A brisa te conduz, acalanta e entorpece
Ah, não te apercebes do nascer longínquo
Da tormenta que já se desenfreia.
INSÔNIA
Levanto-me no escuro
Não acendo vela, posso despertá-la
Tateando caminho para a sala
Não me estorvam móveis
Amigos de antanho
Reconheço-os de olhos fechados
Acolhe-me a bergère em seus amplos braços
Espaldar ampara-me a cabeça
Inquieta, roubou-me o sono
Por um quase nada
Procuro convencê-la da puerilidade
Entretanto
Não sossega, não me dá descanso
Escoam-se as horas
Pela clarabóia filtra-se a aurora
Dissipam-se as trevas enfumando o cômodo
Teias de aranha envolvendo a mente
Envergo o meu poncho, desço as escadas
Sobre o vale surge o sol nascente.
ESPAÇO, FORMA E TEMPO
(Glosando Jorge de Sena)
Ao contrário do que pensas
Nada se aniquila
O sopro se transmite
O que de ti se gera
Te perpetuará
Espaço, forma e tempo
São como um acorde
No ar se desvanece
Mas está presente
Quando suas notas
Tornam a vibrar,
Espaço, forma, tempo
São uma unidade
Infinda, imutável
Que só em aparência
parece- nos mudar
Quando o cosmos
Em massa fria
De novo se tornar
A forma inerte
Por ti julgada morta
Que foi reabosorvida
Ao implodir-se o todo
Com um novo mundo
Também renascerá
É indestrutível
No eterno ciclo
Retoma seu lugar