Seleção de obras e autores da Graphia Editorial.
Todos os posts na categoria Fernando Canto
Fernando Canto nasceu na cidade de Óbidos no ano de 1954. Em abril de 1962 foi residir em Macapá onde concluiu os estudos de segundo grau, surgindo no cenário artístico em 1971 ao participar do Festival Amapaense da Canção. No ano seguinte conquistou o segundo lugar no mesmo festival e em 1974 foi premiado em Belo Horizonte e em Ubá, Minas Gerais. Bacharelou-se em Ciências Sociais pela UFPA. Em 1980, especializando-se em Planejamento Urbano e Municipal pela ENSUR/IBAM (RJ, 1983) e em Teoria Antropológica pela UFPA em l988. Participou de diversas antologias de conto e poesia, entre as quais destacam-se: Contos Paraenses e Novos Contos Paraenses, 1988. Conquistou Menção Honrosa no I Concurso Cata de Literatura, conto, e o terceiro lugar com a monografia A Água Benta e o Diabo no III Concurso da mesma Fundação. Em 1988 conquistou o primeiro lugar no Concurso de poesia “Ver-o-Peso, 300 anos, Semec.” Em 1991 venceu o Edital da Secult com o livro Trajeto Conceitual de Um Burro Suburbano (até hoje inédito), além de conquistar o primeiro lugar no I Concurso de Contos das Universidades do Norte, promovido pela UFPA.
Livros: Os Periquitos comem Manga na Avenida. Poesia. Macapá, 1984; São José de Macapá – Roteiro Poético. Macapá,1985; Telas e Quintais – Textos Culturais. Macapá, 1987; Fedeu, Morreu! Poesia. Belém, 1992, e O Bálsamo e Outros Contos Insanos, Belém, 1995.
***
Do livro Poesia do Grão-Pará (Rio, Graphia, 2001, seleção e notas de Olga Savary)
POEMA
Que seja palpável a mansidão da vida
Que seja leve o grande fardo dos dias
Que sejam tocáveis todas as estrelas
Que seja luzente e transponível
O horizonte das manhãs
Assim como o sol ilumina os rostos oprimidos
Pela angústia crescente dos homens
Assim como a esperança permanece presa
No sagrado baú dos deuses
Que seja a vida a arte de equilibrar o medo
Pois o ofício de viver exige ter talento
Que seja necessário apreciar os campos
Pois os olhos devem descansar no belo
Que as madrugadas sejam cândidas e nuas
Que a violência desapareça de todas as moradas
Que a cidade seja um grande coração
Para acolher até o sibilo do vento
Que se cantem hinos esperançosos
Que se assobiem pensando na liberdade
Que não deverá tardar
Que todos os homens olhem o sol nascer
E todos os dias imitem sua trajetória
Que as ruas sejam uma grande praça
E que se derrubem todos os muros
Porque assim todos poderão passear e se cumprimentar
Porque assim todos serão vizinhos
E se confraternizarão na Grande Festa
Que se abram todos os cadeados Que as lágrimas sirvam
para lavar as almas
E não mais inundem as avenidas
E que o amor seja forte e belo
Que tenha ele a alegria da planta
Ao dar fruto pela primeira vez
FERROADA
Não foi boto saliente
de chapéu “panamá”
nem rasteira à capoeira
nas bandas deste lugar
Foi ferrada, ferroada
de caba, de homem do mar
foi ferro, rabo de arraia
foi enchente, preamar
Foi águas dessas enchentes
foi tronco do mês de março
trapiche, motor-de-popa
foi vento, cabo de aço
Foi o porto que aborta
depois do coito ofegante
foi o barulho das águas
foi a vela itinerante
Foi mururé vagabundo
dançando pelo rio-mar
foi o cuspo encachaçado
de um dos filhos do mar
EMERSÃO
Só se aprende o mundo
se se sai do fundo
Só se sai do fundo
se se aprende o mundo
Entre o ar e a água
entre o nado e o vôo
não prefiro a terra
não me quero chão
Me quero fluido
no limbo, no vão
VERBO VIAJAR
Eu montaria
Tu canoas
Ele igarité
Nós vigilengas
Vós ubás
Eles barcos
JONAS
Sob a luz
a idéia
dessas pontes sedimentadas de brisa
na travessia-rotina
dos ponteiros apressados
E meus olhos fecham
nessa sensação de Jonas
engolido por um cartão-postal
cidade baleia.
Vomito!