Seleção de obras e autores da Graphia Editorial.
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Alfredo Garcia (Bragança, 1961) reside há dezessete anos em Belém. Jornalista e radialista, membro-fundador da APE, é um de seus diretores (reeleito), e membro da Comissão de Redação da Revista da APE.
Ante as dificuldades para editar um livro, apelou para o mimeógrafo, lançando A Vida e o Tempo, Rumos/Rimas e Vozes/Vidas.
Alfredo Garcia conquistou prêmios, como o da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Belém (Semec), na comemoração dos trezentos anos do Ver-o-Peso, junto a Fernando Canto, com o poema intitulado: Ver-o-Peso! Manhã, e honrosas colocações em vários certames, inclusive na APL.
Num dos maiores e melhores concursos literários ocorridos no Pará, em todos os tempos, o da Funtelpa/Rádio Cultura, em 1987, na gestão do escritor Orlando Carneiro, Alfredo Garcia recebeu menção honrosa nos temas: Cabanagem e Círio de Nazaré, sendo vencedor no tema: Prédios históricos.
Bacharel em Comunicação Social, tem nove livros publicados e adotados em escolas de Belém.
Livros: Quem viu o meu Soninho. Infantil. Belo Horizonte, MG, Lê, 1990. 2.ª ed. 1993. 3.ª ed, 1995. O Menino que buscava Azuis. Infanto-juvenil. Belém, Falângola, 1991. Clarinda e o Pé de Vento. Infanto-juvenil. Belém, Falângola, 1992. O Homem pelo Avesso. Contos. Prêmio Samuel Wallace Mac-Dowell, 1992. Belém, Imprensa Oficial do Estado, 1993. Meninos & Meninas. Infanto-juvenil. Contos. Pé de Vento, 1994. O Livrinho das Perguntas. Infantil. SP, Paulinas, 1994. Quando Um Não quer Dois Não Brigam. Infantil. SP, Paulinas, 1994. Memórias do Quintal. Infanto-juvenil. Belém, CEJUP, 1995. Primeira Pessoa & Outros Poemas. Poesia. Belém, Pé de Vento, 1995.
A VIDA E O TEMPO
Tenho medo das alucinações da cidade.
Cada esquina guarda um crime
e não há guardas nas esquinas.
Cada carro, cada construção
parece um possível inimigo
à espreita.
Tenho medo das alucinações da cidade,
da realidade
por que não?
Melhor morar num lugar ermo
sombra da mata
onde sonha um menino
vendo seu cata-vento.
Melhor viver naquele lugarejo
onde um velhinho boceja
na porta de uma casa de madeira
e a vida e o tempo
demoram a passar…
PALACETE PINHO
Entre angústias e silêncios
quebrados de tanto em tanto
o vetusto da paisagem
traz um tempo em moldura.
Foi como o poeta disse:
a solidão das paredes arqueadas
e maltratadas pelas intempéries:
vento, água, abandono.
Passeia entre formas
de pedra, cal e carinho
uma saudade colonial
que valsa nos corredores.
E duas velhinhas anônimas
em seus trajes de trasanteontem
olham com seus olhos atônitos
a arquitetura ruindo.
Tempo, água, abandono.
Entre angústias e silêncios
de pedra e cal cimentados
o vetusto Palacete
vai desmoronando
como uma foto antiga
amarelecendo.
VER-O-PESO/ MANHÃ
Ao acaso das mãos trabalhando formas
nasce a manhã,
por sobre as coisas.
Manhãmaria, manhã cheirosa,
gosto de todos os gostos
por sobre
olhares,
alguidares,
peneiras,
peixes,
mangas-rosa.
Tenra como um fio d’água,
por entre as mãos
espalha-se a cantoria no mercado:
– olha o verde das barracas espraiado
– o vero pitiú do peixe e das gentes nos talhos
– olha o murmúrio crescente das coisas.
Manhãmaria: paisagem desnuda
numa geometria de fome e fardo;
frutas,
vidas,
velas,
vigilengas
Arquitetura de sol/sal/maresia,
o caboclo carrega nos ombros
esse amanhecido pão em caixas: peixe.
Tudo é translúcido – sal suor e mar…
nesta manhã desfraldada por sobre o Ver-o-Peso.