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Correa Pinto (Óbidos, 1915- Rio de Janeiro, 1976) estudou em Belém. Ainda ginasiano demonstrou tendências literárias, fundando a Associação Literária Cenáculo Estudantil de letras, reunindo grupo de jovens com as mesmas aspirações literárias. Era poeta, ensaísta, tribuno de excepcionais qualidades, contista. Muito cedo firmou seu nome no meio intelectual paraense, a ponto de, aos 24 anos de idade, ser eleito e empossado na APL, em 1935.
Seus trabalhos foram publicados em jornais e revistas. Editou livros. E apesar da pouca idade, os discursos que fazia dominavam a assistência pela voz, o timbre e os gestos, colocando-o entre os grandes tribunos de seu tempo. Os livros que editou eram principalmente de poesia e ensaio.
Foi chefe do Gabinete Civil do Dr. José Malcher. Viajando para o Rio de Janeiro, aí fixou residência, mas continuou a prestar serviços ao Pará, como representante da UFPA, do Conselho Estadual de Cultura e como Chefe do Núcleo de Formação Cultural e de Turismo da Casa do Pará.
Quando foi empossado na APL, dedicou a cada um dos acadêmicos presentes algumas palavras carinhosas (entre eles, Paulo Eleuthério, Paulo Maranhão, Eustáquio de Azevedo, Remígio Fernandez, Augusto Meira, Manuel Lobato, etc.)
Livros: Fascinação. Poesia. RJ, Pongetti, 1943; Sonetos. Poesia. RJ, José Olympio, 1964; Exaltação a Portugal. Belém, Globo, 1964; Oração da Humanidade. RJ, Pongetti, 1951; Perfil de Paulo Maranhão. RJ, Pongetti, 1956; Machado de Assis. Ensaio no centenário da morte do grande escritor. RJ, Pongetti, 1958; Belém: Imagens e Evocações. RJ, Lux, 1968, e Fim, Análise de um Mundo que Morre. RJ, Pongetti, 1961.
E muitos outros mais.
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Do livro Poesia do Grão-Pará (Rio, Graphia, 2001, seleção e notas de Olga Savary)
BELÉM
Três séculos e meio tens de idade
Mas, ao beijo do sol equatorial,
Reconquistas a eterna mocidade
Como a Iara em seu banho matinal.
Enfeitiçante e cálida cidade,
Encerras um mistério sem igual:
Longe de ti morre-se de saudade
Como quem lembra uma paixão sensual.
Na verde alcova de tuas avenidas
Ao capitoso aroma das mangueiras,
Como é romântico, Belém, te amar.
Cidade em flor, que ao êxtase convida,
Bendigo as fortes gerações primeiras,
Que te plantaram entre o rio e o mar!
Belém! Verde Belém! Iara formosa.
Noiva do Sol. Berço dos meus amores.
És da Amazônia a imagem voluptuosa,
Com o Ver-o-Peso e as velas multicores…
NOIVAS DO SILÊNCIO
Algodoando o verdor de ermos brejos dormentes,
as garças fitam no ar imaginárias teias.
E concentram-se a ouvir, quais monjas penitentes.
as fontes a gemer, com vozes de sereias.
Em seus alvos cetins e véus opalescentes,
são noivas do silêncio, a tudo sempre alheias.
Lembram, na palidez, lírios convalescentes
ou flocos de luar imóveis nas areias.
Gosto de contemplar as poses enigmáticas,
a estranha quietação dessas virgens estáticas,
quando mergulham na água o cismático olhar.
Castas irmãs do cisne e das iaras furtivas,
em que filosofias, musas cogitativas,
esfinges da laguna, ondinas a sonhar?