Seleção de obras e autores da Graphia Editorial.
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Funcionária pública, Eulina Moutinho (Belém, 1957) é diretora de produção da revista literária SPN – Sociedade dos Poetas Novos, sediada no Rio de Janeiro. Reside no Rio desde os cinco anos de idade, tomando gosto pela literatura, através da leitura, desde bem cedo.
Participa de concursos literários e antologias poéticas. Prepara para breve seu primeiro livro individual de poesia. O forte, nesta poesia,
é a temática social.
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Do livro Poesia do Grão-Pará ( Rio, Graphia, 2001, seleção e notas de Olga Savary)
PARÁ QUE ME QUER BEM
Belém do Pará
bem que esperaste
há tantos anos
pelo meu retorno
tantas promessas de voltar…
Pará que me quer bem,
o bem que eu quero também,
navegar nos teus rios
sem vontade de voltar…
Cupuaçus e as pupunhas que eu adoro,
tanto coco, tanto coco nas esquinas.
E o paraíso verde e amarelo,
não sei porque o abandonei,
não sei, não sei.
Seria bem mais feliz!
ENGOLE
Engole a
brasa acesa
minúsculo
abscesso,
e geme
a fala
da tua cria,
da tua inconseqüência;
possíveis marginais…
Eles rezam
a fome
em madrugadas,
eles querem
um gole de
alegria…
São crianças
insetos ou vice-versa,
sem o amor
infecto
que os pariu…
O LIXÃO
Homens confundem-se com restos,
confundem-se com ratos,
confundem-se com o egoísmo ingrato do poder…
Homens sem pudor nenhum de higiene,
famintos em trapos como num Apocalipse,
num final inevitável para nós mesmos…
Homens, será que homens?!
Abocanham-se em ordens para o lixo que lhes sobram,
o lixão que o destinaram, por tão pouco exigirem…
Meu Deus! Meu Deus, não é isso que esses homens
confundidos com detritos e sobras do que não se quer,
poderão viver para sempre,
eu sei, não é isso!
PORQUÊS
…Por que existem padarias
se existem pessoas
que não podem entrar,
crianças que desejam
um chocolate e
a mãe não pode pagar…
Por que existe a alegria,
se existem pessoas tristes…
Por que existem remédios.
se existem tantas doenças…
Por que existem chegadas
se existe quem nem saiba seguir…
Por que existem mares
se existem quem não os preservem…
Por que existirá a Paz
se existe quem se realize nas guerras…
Por que existem crianças
se existem quem as odeiam…
MÃE
Divide o pão
igualmente aos filhos
e a outros filhos que não sejam os seus.
Divide o chão milimetricamente aos filhos
e a outros filhos que a cama lhes falte.
Divide o grão, mesmo ainda que não seja farto,
um a um, para haver união e sanar a fome.
Divide o ar no barraco com os filhos
e é a única coisa que não precisa esmolar.
Divide a fé com os filhos, e a outros filhos,
e aos filhos dos filhos, filhos que nem se dão conta que são filhos.
São filhos do mesmo pão, do mesmo chão, do mesmo não.
Mãe, que a vida não lhe deu alternativas, nem tempo pra sonhar.
Mãe por desafetos, por nem saber da luz.
Mãe, apenas Mãe, e é tudo!