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Poeta e compositor, Eduardo Dias nasceu no estreito de Óbidos em 12 de setembro de 1962.
Estudou Letras e Direito na UFPA, em Belém.
Lançou seu primeiro livro, Uma Vida Viver, em 1983, pela tipografia de Óbidos, com apresentação do Professor Orlando Cassique. Em seguida foi premiado pela Semec/PMB com o livro De Proa, lançado em 1985.
Em 1988 publicou Sinfonia dos Delírios.
Em 1989 publicou A Sombra Oculta do Mistério pelo edital de arte da SECUL/PA.
Novamente, em 1990, foi premiado pelo mesmo edital de arte da SECUL/PA com Sonhos em Maresias.
Seu mais recente trabalho de poesia foi publicado em 1995 Nas Trilhas do Pingo d’água, com apresentação de quarta capa de Ademar Amaral.
Eduardo Dias publicou poemas em vários livros e jornais, entre os quais O Liberal, além de cadernos de concursos literários da UFPA.
Participou como colaborador da revista alternativa carioca Verso & Reverso, da revista Brasília, entre outras publicações.
Como compositor gravou um compacto duplo (1985), dois LPs em 1990 e 1994, e três CDs. Tem composições gravadas pela Banda Fruta Quente, Fafá de Belém, Coro Cênico da UNAMA, entre outros.
Livros: Uma Vida Viver. Poesia. Óbidos, 1983. Apresentação do Prof. Orlando Cassique; De Proa. Poesia. 1985. Prêmio Semec/PMB; Sinfonia dos Delírios. Poesia. 1988; A Sombra Oculta do Mistério. Poesia. SECUL/PA, 1989; Sonhos em Maresias. Poesia. Belém, Delta, 1995. Apresentação de Ademar Amaral. Capa de Saint-Clair Gonçalves Dias.
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Do livro Poesia do Grão Pará (Rio, Graphia, 2001, seleção e notas de Olga Savary)
A CHUVA
Uivando pelos telhados,
choram mangueiras lágrimas-pingos,
ímã irmã zinhas,
meninos correm descalços
na Praça da República.
Bem-te-vi mofino,
a tarde cai na baía do Guajará,
entardecendo as canoas sujas
do lamaçal da cidade:
– Belém do Grão Pará!
Uivando por ser solitário,
um poema surge translúcido
e louco.
Um poema entre itinerários,
de automóveis no asfalto encharcado
de nuvens – poças de medo,
que habita essa cidade:
– Belém! Belém! Belém!
Enquanto no porto do sal
encosta a barca Nossa Senhora,
valei-me agora uma barca,
e peço ao poema: embarca,
segue pro reino dos anjos…
Uivando pelos telhados,
as bicas desovam cantares,
na terra germina segredos,
(lá vem o poema na chuva
ou se chuva ou se poema)
a chuva chega de anágua,
espelho e poça d’água,
soletram o tempo submerso,
festeja uníssono verso:
Belém! Belém! Belém!
PRINCÍPIO
Hoje me embriago solidão,
bicho de água doce
custei a entender o ciclo do fel,
agora sou da tirania do mistério
e batalhas…
Cavo teu abrigo – existência,
cujo princípio derradeiro
começa suor e verso: sonhar é preciso,
viver é defectivo.
CABANEANDO
Ao Nego Nelson
Essa gente
que se preocupa em criticar,
quem escreve assim; Tucupi, Igarapé, Açaí,
devia aprender a gostar
de Pajurá, Pitomba, Ingá,
e saber de Alenquer, Abaeté, Cametá,
a dançar Xote, Desfeiteira, Lundu,
ou por exemplo: Carimbó e Siriá.
Saber com a fala dos rios,
o modo vital e belo,
o que nenhuma universidade
sabe ensinar,
daí compreender o sentido
da palavra várzea.
Essa gente
que não sabe o que é Poronga,
Peconha, Maromba, Tarubá,
não devia se preocupar com a presença
de vocábulos tupi,
pois antes de serem ritmo,
rima, originalidade,
são expressões gostosíssimas,
e por si só – meus caros,
com sua sonoridade incrível,
são inevitáveis canções.
Há coisa mais importante
para se preocuparem – e urgente!
O norte que em todos vós não existe.